terça-feira, 24 de novembro de 2009

Jamaerá

JAMAERÁ, A MANIFESTAÇÃO DA VISÃO: A ÚNICA CRENÇA PERIGOSA AO SABER, É A CRENÇA NO SABER

Alguns relatos pessoais realizados por homens de ciência sobre a maneira como eles chegaram às suas descobertas, são bastante curiosos, meu amor.
Todos conhecemos o anedótico relato de Arquimedes correndo nu pelas ruas da Grécia antiga, e gritando "heureca!" após ter descoberto, graças a um banho na banheira, uma equação que buscava já há muito tempo.Outros cientistas afirmam que sonharam com a solução que buscavam, ou que tiveram uma "visão" dela.Inúmeras soluções científicas foram também consideradas, de início, como absurdas e irracionais, meu amor.E, muitos homens de ciência tiveram, em primeiro lugar, a intuição de uma pista de trabalho, uma firme convicção interior, que só se converteu em "razão" e em "ciência", num segundo momento, quando eles buscaram apoio lógico ao que intuíam.
Todos nós possuímos essa "visão interior", essa intuição de algo, e só em seguida buscamos uma explicação racional ao que intuímos, meu amor.
Cultivar a própria intuição nada tem de "irracional", pois a razão funciona bem mais como caução lógica de uma hipótese, do que como um motor de busca.
A verdadeira fronteira entre a crença e a razão não se situa na interdição de "intuir", meu amor, mas, sim, no reconhecimento das nossas próprias crenças pessoais.
O primeiro ato racional, meu amor, é repertoriar, em si mesmo, tudo que é do domínio da crença.Infelizmente, grande parte dos homens de "razão" envergonham-se das suas crenças, e ocultam-nas de si mesmos.
Eles cometerão, assim, o mais irracional dos atos, e servirão intelectualmente à mais irracional das crenças:A crença de não possuir nenhuma crença.
Pois é impossível viver sem crenças, meu amor.
Crença é sonho, meu amor.
Mas crença é, igualmente, hipótese, crença é suposição, é todo e qualquer modelo científico, que só é "verdade" até a prova do contrário.
Crença é simplesmente sinônimo de...
Percepção...Pois a percepção nada mais é que, justamente, essa "intuição", essa visão "interior", que temos do mundo e de seus fenômenos, e que dialoga constantemente com nossa razão, que confirma ou desmente o que cremos ou intuímos ser "verdade".
Mas a razão não é sinônimo de "verdade", meu amor.
A razão só consegue pronunciar-se sobre o "como" de uma existência, ignorando tudo do "porque" existencial dela.Todo criador em ciência, em política, em arte, em religião, em filosofia, ou onde quer que seja, é, antes de mais nada, um visionário, um "utopista", meu amor.
Todo inovador busca novas combinações de antigos padrões, busca, precisamente, o que escapou, até o momento, à "razão", e que poderá, em seguida, ser corroborado e adotado por ela.Só quando perdermos o medo do nosso "visionário" interior, meu amor, é que...Paradoxalmente...Conseguiremos liberar nossa razão das nossas crenças e superstições.
Uma técnica de raciocínio e criação que obteve bastante sucesso é conhecida sob o nome de "brainstorming", meu amor.Nesse método, deve-se deixar que toda e qualquer idéia que nos venha à mente na busca de uma solução, seja aceita, num primeiro tempo, sem nenhuma censura.
Só em seguida é que o conjunto de hipóteses emitidas será racionalmente analisado.O que se constata com tal método, meu amor, é que, freqüentemente, são as sugestões que, inicialmente, pareciam as mais absurdas, ou impraticáveis, que acabam fornecendo a solução desejada, graças a algumas modificações.
Outras vezes, estas proposições tidas como absurdas à primeira vista, permitem uma transição a soluções que partiram delas.
Na realidade, nossa mente funciona naturalmente em termos de "brainstorming", meu amor, levando todo tipo de solução em conta na fase inicial, e fazendo uma triagem, unicamente, na fase final, já mais próxima da adoção de uma estratégia de ação.
Este modo de funcionamento é típico dos sistemas altamente organizados e complexos como o cérebro, e é descrito pela "teoria do caos", segundo a qual, toda dinâmica supostamente "aleatória" dos sistemas de regulação sofisticados e evoluídos, é regida por uma "variável oculta" (que é designada em inglês de "strange attractor"), que reordena e coordena inúmeras ações aparentemente "caóticas".
A "racionalidade" nada mais é, então, meu amor, que essa "variável oculta", que coordena o sem-número de operações mentais, "caóticas" e "irracionais", que realizamos a cada instante.Na sua face mais interna, nossa mente é uma fonte sem censura de idéias e hipóteses, um "oceano irracional e inconsciente", cujas ondas vão se quebrar nos arrecifes da nossa consciência ordenadora.Razão e intuição, lógica e "visão interior", são, assim, as duas faces dessa "variável oculta" que é nossa mente.
A irracionalidade é, então, o laboratório da racionalidade, meu amor.
Sem ela, a razão converte-se na única crença realmente nociva ao saber: o dogma.
As pessoas que mais combatem a "irracionalidade" das religiões, da astrologia, ou da mística, são, na realidade, pessoas dogmáticas, prisioneiras de um altíssimo nível de crença e de irracionalidade reprimidas, que manifestam, através desse combate contra a crença "do outro", a projeção do próprio medo do irracional auto-censurado, mas perniciosamente ativo, pois a única crença realmente perigosa ao saber é a crença no saber, meu amor.
Quem "sabe que crê", meu amor, sempre estará vigilante, sempre utilizará seu racional para avaliar suas intuições.Mas quem "crê que não crê", ou seja, quem "crê que sabe", jamais poderá chegar, da sua crença no saber, ao saber das suas própria crenças.
Daí a "fúria" de muitos intelectuais contra o "irracional", meu amor:
Trata-se de um combate interior contra o irracional desconhecido em si mesmo.
Se queremos chegar à razão, meu amor, aceitemos, então, o nosso visionário!
JAMAERÁ é esse arquétipo da MANIFESTAÇÃO da "visão interior", meu amor.
Esse "anjo" é o encarregado de despertar nosso "visionário", nossa intuição, de conduzi-la, em seguida, à razão, à APLICAÇÃO CONCRETA do nosso universo visionário, "utópico", assim que este encontrar um ponto de apoio lógico na nossa dimensão material.

Vale a pena insistir, aqui, de novo, meu amor, sobre o fato que a “visão interior” corresponde ao nosso modelo pessoal de “realidade”, à nossa interpretação da nossa “crença subjetiva” nela.
Pois, como vimos no estudo de arquétipo da beleza, Iofiel:
Não sentimos o que percebemos, e sim percebemos o que sentimos.
Nossa percepção do mundo nada mais é do que a MANIFESTAÇÃO da nossa “crença”.
No início, “vibra” dentro de nós uma emoção, uma “intuição”.
Essa vibração emocional básica condensa-se, em seguida, sob forma de “visão”, de concepção de uma ação, e será nossa crença nesta visão que nos conduzirá à sua MANIFESTAÇÃO, à sua transformação em atos concretos.
Assim, a vibração emocional de base, estudada com maiores detalhes no arquétipo de Galgaliel, conduz-nos ao arquétipo da “visão interior”, estudado em Paschar, que culmina com sua MANIFESTAÇÃO, representada arquetipicamente por Jamaerá.
É inútil, então, impossível mesmo, coercir nossa “visão interior”, nossa crença, já que ela sempre encontrará meios de se MANIFESTAR no concreto.
Nem que seja sob forma de protesto, de prostração, de auto-agressão.

Perde, então, o medo de sonhar, meu amor!
Um homem terá muita dificuldade em viver apenas de seus sonhos.
Mas, um homem sem sonhos, já é um homem morto, meu amor.
Nossos sonhos são o autêntico motor da nossa realidade.
O desejo da descoberta é que a realiza.
Homens sempre conseguiram sobreviver sem ciência.
Mas só robôs sobrevivem sem poesia.
Queres utilizar tua mente?
Queres acionar tua razão?
Libera o teu coração, sonha, meu amor!
Sonha acordado, imagina o que tu queres fazer da tua vida, sonha a vida que queres, ousa ter a visão de ti que, na realidade, vive no fundo de ti mesmo, quer aceites vê-la ou não.Deixa que a razão sirva à teus sonhos, meu amor, não que ela seja seu túmulo.Faz essa experiência, meu amor:
Sonha.Sonha com a vida que queres, com o mundo que anseias por ele, com o tipo de relação que desejas manter com as pessoas.
Utiliza, em seguida, tua razão, não para criticar o "ridículo" ou o "absurdo" de tal ou qual fantasia tua, mas para adaptá-la às circunstâncias presentes.
Não desperdiça tua energia mental julgando, investe toda ela na busca dos meios para realizar o que almejas.Deixa que teus sonhos sejam os mestres dos teus projetos, e que tua mente seja, simplesmente, o que ela é:
A responsável da adaptação e da execução.
Só não confundas "sonho" com "realidade", meu amor.
Pois o próprio de um sonho é saber se transformar, renascer das suas próprias cinzas.O sonho é o impossível que saberá enraizar-se no real da maneira que lhe for...Possível...Se te obstinas a "realizar" teu sonho, tal e qual ele se apresenta na tua visão, é porque ainda confundes sonho com realidade, logo, já não estás mais "sonhando", a palavra mais certa nesse caso seria ..."delírio"...Pois o "delírio" é um sonho que esqueceu que é um sonho, meu amor.O delírio é um sonho que esqueceu de se transformar em realidade, por medo de se realizar, preferindo transformar-se em...
Pesadelo...Entendes, talvez, melhor, agora, meu amor, porque não devemos temer nossos sonhos, pelo contrário, deveríamos sonhar cada vez mais, e cada vez mais "loucamente"?
A função do sonho é buscar o impossível, o inatingível, o inexistente, meu amor.E a missão da razão é enraizar essa força criativa na materialidade.
A razão é, assim, a maior amiga do sonho, da visão, da intuição.
Pois, sem a intuição, a razão nada mais seria do que uma mecânica, meu amor, uma inteligência "artificial".A tua razão está te implorando para que sonhes, para que exageres, para que creias, para que cries, para que tentes, para que aceites errar.
Mas teu medo deu um "golpe de estado" no teu estado mental, tornando-se o censor dos teus sonhos, fazendo-se passar por tua razão, quando ele é a própria negação dela, pois onde já se viu um "medo" de viver, de tentar, poder justificar-se racionalmente?
Tua razão suplica para que ouses, para que não pares de desejar, de viver, meu amor.Só assim ela poderá conduzir-te ao seu cume, de onde contemplarás o mundo não como um frustrado do que não viveu, mas como um Buda que, tendo percorrido todos os princípios do prazer, alcançou o sublime prazer de ser.
Pois, no começo, teus sonhos buscarão o prazer, meu amor.
Mas essa busca já é a negação implícita do prazer, que já está em ti, negação do fato que teu ser, em si, nada mais é que prazer.
Só vivendo a busca do prazer poderás descobrir o prazer que já vive em ti, meu amor, simplesmente porque vives.
Se já me entendes, meu amor, aceita, então, essa minha explanação como um encorajamento a mais na tua via.Se discordas de mim, se não me entendes, meu amor, disseca meu texto, utiliza dele apenas o que te convém.Ao fazê-lo, tomei a precaução de concebê-lo apenas como um sonho, apenas como uma visão.E, sendo a visão uma aspiração, um movimento, ela é um todo, meu amor, um "holos", que renasce de qualquer fragmento seu.
Isolando a discordância, conservarás a concordância, meu amor, pois visão é prazer, e prazer é concordância.Assim, onde quer que se situe tua discordância, ou incompreensão, quanto a afirmação aqui, da importância fundamental da "visão" à própria razão, no primeiro momento de prazer que te concedas, entraremos em concordância outra vez, pois teu "visionário", teu "Jamaerá", estará lá, presente, guiando teu sonho de prazer, buscando despertar-te para a realidade do prazer, pois todo prazer só é um sonho, meu amor.
Mas, todo prazer só será um sonho, enquanto teu medo fizer da tua realidade um pesadelo.Não temas o temor, meu amor.
Busca o que já te dá prazer.
Aí está o segredo da visão.
Aí está a verdadeira luz da tua razão.